A área de Recursos Humanos precisa estar atenta a cada novo paradigma ou ciclo social e produtivo e gostar de pessoas.
Embu das Artes (SP), sexta-feira, 2 de junho de 2023 – Neste 3 de junho, para celebrar o Dia do Profissional de Recursos Humanos, a Datalink – fabricante brasileira de cabos e conectores de alta performance – parabeniza profissionais de uma área que está em constante crescimento e agrega diferentes desafios e responsabilidades ao longo do tempo. A assistente de RH da empresa, Florance dos Santos Reis, carinhosamente chamada de Flor, fala sobre a estruturação e atuação do departamento.
A assistente de RH da Datalink explica que o trabalho é desenvolvido sempre com muita ‘escuta’ e resiliência. “Todas as informações são compartilhadas e resolvidas em consenso dentro da equipe da área. Junto a isso, o nosso aprendizado é constante, pois todos os dias praticamente temos leis, decretos, códigos e procedimentos novos ou atualizados”, informa e arremata: “É um trabalho muito desafiador, mas recompensador pelos resultados alcançados.”
Conforme ela, “lidamos com pessoas e suas histórias de vida, que carregam especificidades, dores, traumas. Portanto, o que define a nossa conduta, enquanto profissionais de RH, é o cuidado e o respeito”.
Primeiros passos do RH no mundo
A área de Recursos Humanos, ou simplesmente RH, surgiu na passagem entre os séculos XIX e XX com os primeiros sinais da segunda Revolução Industrial. Nesse início, seu nome era Relações Industriais e estava ligada diretamente às relações que envolviam empregador e empregado.
Nessa perspectiva, o setor surge para acompanhar um evento histórico responsável por grandes transformações na maneira em que vivemos, agimos, pensamos e principalmente produzimos. Uma característica que se mantém até os dias de hoje.
Nos tempos atuais, o RH também sente e gere as mudanças sociais e tecnológicas, como a era digital e o fenômeno das redes sociais, dentro dos ambientes laborais.
Do analógico aos tempos digitais
Se antes as funções do RH eram mais administrativas e burocráticas, como supervisionar a produtividade dos funcionários, hoje ela está no ‘olho do furacão’ com tantas transformações sociais, normas empresariais e públicas mais rígidas – Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), políticas de governança corporativa e práticas associadas à ESG (acrônimo em inglês de Environmental, Social and Corporate Governance; em tradução para o português governança ambiental, social e corporativa), entre outras.
O profissional de RH vive também a transição ou o impacto de um mundo que era quase todo analógico para os tempos digitais. “Somos uma empresa inovadora e estamos nós modernizando cada dia mais, isso inclui os processos de RH e o contato com os colaboradores o que faz com que tenhamos uma proximidade e interação mais dinâmica. Temos usado a tecnologia a nosso favor em nossas avaliações e comunicações internas”, informa Florance dos Santos Reis.
Para acompanhar as mudanças e tendências, Florance dos Santos Reis informa que a Datalink está atenta a tudo, “estamos em atualização de procedimentos constantemente”, assegura. Por isso, o RH se firma como uma estrutura indispensável para o futuro da empresa, ela diz: “Diante dos desafios sociais e econômicos, elaboramos planos de capacitação, orientação e inclusão dos colaboradores. Na nossa integração com os novos colaboradores, inclusive, fazemos um treinamento que inclui orientação sobre o fit cultural da empresa e estratégia de mercado.”
Desenvolvimento de talentos
A política de RH tem se mostrado eficiente, ao longo dos 30 anos da Datalink, defende Flor. “Não temos um turnover alto e acredito que seja decorrente do nosso método de avaliação 360 realizada semestralmente, onde o colaborador tem uma avaliação individual e uma conversa com o seu líder”, explica a profissional de RH da empresa.
Métodos, inclusive, que podem ser comprovados na prática, já que a fabricante tem colaboradores com tempo de casa longo, como 25, 17, 15 e 13 anos. “Isso permite”, analisa Flor, “que esse colaborador experimente um desenvolvimento profissional e de habilidades técnicas e comportamentais. Temos casos de jovens que entraram como ajudantes ou sem uma graduação ou profissão definida e, hoje, são engenheiros, técnicos, coordenadores, gerentes etc.”. Na outra ponta, a empresa também está aberta à contratação de novos talentos, “medida que proporciona uma relação positiva intergeracional”, diz.
Ainda dentro da preocupação com o desenvolvimento profissional e pessoal, a Datalink, informa Flor, mantém uma sala de aula com estrutura adequada, como computadores e internet, dentro da fábrica, para que o colaborador possa estudar, fazer cursos e ter oportunidades de aperfeiçoamento.
Entrevista especial
O futuro da profissão de RH
A Datalink, ainda como homenagem aos profissionais de RH, entrevistou a headhunter Marismar Malara sobre tendências da profissão que deve se manter analógica, mas deve e vai ter de incorporar práticas introduzidas pela digitalização telemática. “Hoje temos ferramentas ligadas à machine learning ou inteligência artificial que aceleram processos seletivos e de avaliação. Mas nada substitui o contato humano, o olho no olho”, afirma.
Marismar Malara é formada em Gestão de Recursos Humanos, Administração de Empresas, tem especialização Gestão de Projetos, pós graduação em Marketing e Branding e MBA em Gestão de Pessoas.
Experiência generalista em Recursos Humanos, com aproximadamente 10 anos de atuação em diversos subsistemas da área, Malara atuou em cargos administrativos e de gestão, realizando atividades estratégicas, de departamento pessoal e gestão de pessoas. Hoje, ela é Tech Recruiter de uma startup brasileira.
Qual a importância da profissão para uma organização, instituição etc. e também para os próprios colaboradores e/ou empregados?
O RH é uma área estratégica. Geralmente ela é que define as melhores práticas e processos para atender tanto às pessoas quanto à necessidade da empresa. Esses dias, inclusive, vi uma postagem da [consultora de carreiras] Paula Boarin, em que dizia que o RH é um ‘cachorro de dois donos'. Porque o papel do RH é ser um intermediador para atender aos interesses e demandas da empresa e das pessoas que trabalham nela.
Mas também existe uma certa idealização e, em alguns casos, até a romantização dos profissionais dessa área, como se eles não pudessem errar de forma alguma e, por isso, acontecem as frustrações.
É preciso compreender que todos que fazem parte de uma empresa estão sujeitos às regras dessa organização, definições estratégicas e os objetivos da empresa são feitos pela alta gestão. Todos os envolvidos precisam caminhar na mesma direção para se obter sucesso nos negócios.
Então, definiria o profissional de RH como parte fundamental para o desenvolvimento das pessoas e crescimento das organizações. Com a correta atuação desses profissionais é possível criar um bom ambiente de trabalho, com regras definidas e atendimento de necessidades de todos os envolvidos na relação de trabalho.
A profissão também está se transformando de uma atuação mais analógica, podemos dizer assim, para o tempo digital atual. Como o profissional de RH se ressignifica nesse cenário?
Esse caminho não tem volta. A tendência é que cada vez mais se automatizem processos operacionais – do ‘chão de fábrica’ ao escritório. O que causa um pouco de incomodo, principalmente na experiência das pessoas, é a falta do contato humano em alguns processos que hoje já estão sendo automatizados. Ou seja, quando falamos de recrutamento e seleção de grandes empresas, é impossível fazer triagem de grandes quantidades de currículos sem a ajuda de sistemas inteligentes.
Não existe outro caminho se não nos qualificarmos para atender às novas demandas de mercado. A palavra que melhor define um profissional de Recursos Humanos é adaptação.
De tempos em tempos, vivenciamos revoluções industriais e tecnológicas, então precisamos estar sempre antenados para conseguir acompanhar as diferentes demandas que vão surgindo.
Nem tudo são flores na digitalização, sabemos disso. O que vem para ajudar também pode criar problemas. Já se fala, por exemplo, em burnout digital.
Burnout digital ou esgotamento digital é um estado de exaustão física, mental e até emocional, causado pelo excesso de uso de dispositivos eletrônicos, como computadores, smartphones, tablets etc.
Segundo uma pesquisa da Mckinsey, desde a pandemia da Covid-19, a adoção de tecnologias de digitalização e automação se acelerou muito. Nesse período, por conta de todas as restrições, as empresas e consumidores foram forçados a mudar seus hábitos. Isso fez com que as empresas acelerassem muito a implementação de novas tecnologias e ferramentas que permitiam a interação digital e a colaboração entre os funcionários e até a interação com os clientes nesse ‘novo normal’.
O excesso de informações, redes sociais, fake news, e até as novas inteligências artificiais [IAs] generativas, como o ChatGPT, podem ser um problema quando não se tem orientação de como trabalhar com isso.
E esse é mais um dos papeis do RH, desenvolver e implementar programas de qualidade de vida e segurança no trabalho para prevenir ‘acidentes digitais', como o burnout digital.
A profissão é quase um farol e um radar das transformações culturais e sociais. Como o RH deve mostrar que discriminação racial, de gênero, de credo, contra o PCD etc. não são naturais, mas construções da sociedade?
Tudo se transforma, para o bem, com a educação. O preconceito só existe quando você desconhece algo, e isso, muitas vezes, gera medo ou insegurança. A única forma de combater é com orientação e conhecimento.
O profissional de RH, antes de tudo, deve gostar de pessoas e entender que cada ser humano é um mundo de possibilidades, com virtudes, defeitos, medos, inseguranças, sonhos e vontades.
Gostar de pessoas e respeitá-las em sua totalidade, faz com que o profissional consiga identificar que um mundo plural é muito mais completo, feliz, competitivo e até lucrativo. Um mundo sem pluralidade nunca existiu, ele é artificial, por isso gera tantos dissabores, dores e discriminações.
Não há respeito quando existe desinformação. O único caminho é a educação. Essa é a palavra-chave!
O papel do RH em promover essa conscientização é fundamental, com programas de treinamento, processos inclusivos, programas que abracem a diversidade, adaptações necessárias, acessibilidades diversas etc.
E o RH diante do fenômeno das redes sociais?
Toda experiência, seja ela boa ou ruim, sempre nos ensina algo. A velocidade com que informações falsas são disseminadas, o crescimento das inteligências artificiais que conseguem fazer vídeos ou fotos falsas circularem, a alienação e a desinformação geradas, enfim, também vão aparecer, de alguma forma, nos ambientes de trabalho.
Se puder dar uma dica aos leitores, diria somente para cuidarem da imagem que querem passar. Uma vez na rede, o mundo todo tem acesso aquele conteúdo. No final das contas, você é um cartão de visitas da empresa que trabalha ou gostaria de trabalhar. Aqui vale o ditado popular de que ‘uma imagem vale mais do que mil palavras'.
Por outro lado, a rede social se tornou uma ferramenta para os profissionais de RH. Por ela, podemos fazer o recrutamento de profissionais. Como Tech Recruiter, consigo encontrar pessoas no LinkedIn, Github, Grupos no Facebook, Instagram, Telegram, entre outras.
A profissão de RH tem futuro?
Sem dúvidas! Não avalio a tecnologia como inimiga, ela realmente vai nos auxiliar em muitas atividades e tarefas, mas precisamos aprender a trabalhar com ela e usá-la com sabedoria. Usá-la a favor, e não contra.
O tato e o contato humano serão ainda mais valorizados no futuro e no final das contas essa é a maior atribuição do profissional de Recursos Humanos: saber trabalhar com pessoas, entender suas particularidades, necessidades, promover qualidade de vida, entre outras coisas.
Ouso dizer que, no futuro, os profissionais que tenham esse feeling serão muito mais valorizados. Apesar de amarmos a praticidade na realização das tarefas, nada substitui o olho no olho, perceber o brilho nos olhos, uma boa conversa e um abraço afetuoso.