Educação, inovação e valorização: tripé de sucesso na Datalink

Educação, inovação e valorização: tripé de sucesso na Datalink

Professor da USP ressalta importância de parceria entre mercado e universidade, além do compromisso com o aprendizado constante.

Rosângela Ribeiro Gil
Assessoria de Imprensa
imprensa@afdatalink.com.br

Cristina Camacho
Foto e edição de imagens
elisabeth@afdatalink.com.br

Em 24 de janeiro, celebra-se o Dia Internacional da Educação. A data foi criada pela Resolução 73/25, da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2018. O objetivo é sensibilizar a sociedade civil para que se cumpra o direito à educação e sublinhar o papel da educação como meio para quebrar ciclos de pobreza e para o desenvolvimento sustentável e social.

É com muita satisfação e entusiasmo que a Datalink – uma das principais fabricantes de cabos e conectores de alta qualidade e performance do País – destaca suas ações em educação e aperfeiçoamento entrevistando o professor Leopoldo Rideki Yoshioka, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). No seu perfil no LinkedIn, o docente assim se apresenta: “Tenho um interesse especial em criar valores por meio da educação. Acredito que todas as pessoas, organizações e países são responsáveis ​​por garantir o bem-estar do mundo para o futuro.”

Nesta entrevista especial ao Datalink News, o professor, que é engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), fala sobre a importância da aproximação entre empresas e universidades e ressalta a ação da Datalink nesse sentido, o Datalink Educa. Uma iniciativa, observa o docente da USP, baseada “na filosofia de aprender sempre e que, sem dúvida, está por traz do sucesso da empresa”.  E completa: “Acredito que a iniciativa da Datalink de estreitar os laços com as universidades trará frutos.”

Foram abordados diversos temas nesta matéria, todos pertinentes e aderentes à trajetória da Datalink desde a sua fundação em 1993. Para garantir uma boa leitura dos grandes ensinamentos do professor Leopoldo Rideki Yoshioka, dividimos as respostas em cinco temas – educação, crescimento, valorização, revolução digital e inovação.

Professor Leopoldo Rideki Yoshioka participa de palestra na Datalink. Crédito: Cristina Camacho.

Educação
O Datalink Educa é um dos pilares da empresa. Como o senhor entende a necessidade dessa aproximação empresa e instituições de ensino?
Pelo que sei, a Datalink vem implementando programas de aperfeiçoamento para os seus funcionários. O “Educa”, baseado na filosofia de aprender sempre, é sem dúvida um programa que está por traz do sucesso da empresa.

É importante notar que o impacto do aprendizado nem sempre é percebido imediatamente em termos de resultados. Mas, no médio e longo prazo, a eficiência e a produtividade da empresa aumentarão de forma inequívoca. A demora se deve à própria natureza humana que é a de reagir às mudanças num primeiro momento. Assim, as transformações devem fazer parte do processo, de forma que os colaboradores possam assimilar novos métodos pouco a pouco.

Acredito que a paciência e a visão de longo prazo têm sido fundamentais para o avanço desse programa. Não tenho dúvidas de que a interação entre a empresa e as universidades é um elemento impulsionador para o desenvolvimento de novas tecnologias e processos.

Universidades como a USP [Universidade de São Paulo], por exemplo, possui o domínio muito amplo de conhecimentos científicos e tecnológicos, em praticamente todas as áreas de ciências exatas, humanas e sociais. A empresa, por sua vez, possui um grande conhecimento sobre os processos produtivos, comercialização e o atendimento das necessidades do mundo real. Ambas as partes possuem lacunas e soluções que poderiam ser compartilhadas. Entretanto, na prática, é muito difícil conciliar as ofertas e demandas entre as empresas e universidades. Acredito que a iniciativa da Datalink de estreitar os laços com as universidades trará frutos, sem dúvida.

O senhor acredita que as universidades brasileiras – públicas e privadas – estão abertas para essa troca de experiências e saberes?
De fato, vejo que a Datalink está fortalecendo cada vez mais o vínculo com universidades brasileiras, inclusive com a Universidade de São Paulo (USP). Embora haja interesses tanto das universidades como das empresas, na prática a interação não acontece com muita frequência, principalmente quando se trata de empresas de menor porte.

Mas, no caso da Datalink, me parece que a postura dos fundadores faz a diferença. Eles tomaram a iniciativa de convidar professores e pesquisadores das universidades para conhecerem a empresa. Faz muita diferença quando a empresa mostra a sua planta moderna, com processos de produção, utilizando máquinas e instrumentação de última geração.

O senhor já esteve no complexo industrial da empresa, em Embu das Artes?
A primeira vez que visitei a fábrica da Datalink foi em 2017. Fiquei bastante impressionado com a infraestrutura, mas especialmente com a filosofia da empresa de que a qualidade não se controla, fabrica-se. De lá para cá tenho visitado a empresa regularmente, e observo que, ano a ano, a empresa vem aumentando a interação com outras universidades e empresas.

É muito positivo a empresa estar sempre aberta às visitações, pois, como dito anteriormente, uma verdadeira inovação não pode ser copiada facilmente, pois ela não está na ferramenta, mas sim na forma como se utiliza essa inovação.

Acredito que a interação entre universidades e empresas existe, mas ainda é incipiente, por isso, exemplos de sucesso como o da Datalink certamente despertarão interesse de outras empresas e universidades.

Crescimento
A Datalink completa 30 anos neste ano de 2023 e foi criada por dois engenheiros contemporâneos seus do ITA. Como o senhor contextualiza essa experiência de sucesso no País?
O Brasil é um país grandioso, seja em termos de extensão territorial, tamanho da população e em termos econômicos. Nos anos 2000, chegamos a ser a sexta maior economia do mundo. Entretanto, após a crise econômica mundial de 2008 estamos trilhando uma trajetória contínua de queda. Segundo estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2019 a indústria brasileira caiu para 16ª posição em termos de participação no cenário global.

As causas da perda de competitividade podem ser atribuídas a diversos fatores, mas o principal é o avanço das concorrentes internacionais, principalmente China, países do sudeste da Ásia e leste europeu. Mesmo diante dessa situação adversa, algumas empresas brasileiras do setor metalúrgico, elétrico e agrícola vêm crescendo com vigor.

É uma conjuntura complexa e difícil para se estabelecer, permanecer e crescer como empresa.
Diante desse cenário, é notável o crescimento da produção e da participação no mercado que a Datalink vem alcançando, em especial nos últimos cinco anos. Os dois sócios-fundadores são meus colegas de turma da faculdade. Eles começaram com um negócio pequeno de montagem de cabos em Santo Amaro, na capital paulista. De lá para cá, passaram por altos e baixos, mas sempre cresceram de forma gradual.

Acredito que o que fez a diferença foi a capacidade de eles atraírem bons funcionários e de desenvolvê-los de forma a contribuírem para agregar cada vez mais valor à empresa.

A produção de cabos industriais e de produtos de áudio de alta fidelidade, que são especialidades da Datalink, exigiu que os conhecimentos-chave fossem adquiridos por eles mesmos, e por meio de interação com os clientes. Trata-se de um processo demorado, que exige resiliência, pois é necessário continuar competindo com concorrentes de todo tipo, e com o cenário adverso do País.

Certamente, não é fácil se sobressair diante dessa situação.

Valorização
Como o compromisso com o desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais faz a diferença, professor?
Quando vejo a empresa crescendo em ritmo acelerado e colhendo resultados significativos, percebo a importância do esforço que foi dedicado para aprimorar as pessoas, os produtos e os processos, ao longo de muitos anos, independente de quão difíceis sejam as circunstâncias.

Claro que o fato de os fundadores terem se formado no ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], um curso nada fácil, deve ter contribuído. Com certeza. Mas acredito que o fator mais importante é que eles foram capazes de continuar aprendendo muito, seja a respeito de como produzir cabos de qualidade, mas também sobre como administrar uma empresa, cuidar do bem-estar dos funcionários e, principalmente, em como ser reconhecido como um participante (player) pelo mercado.

Sabemos que o espaço privilegiado para desenvolver o saber técnico e outras competências e habilidades é numa instituição de ensino. Mas, na sua visão, o que a Datalink ensina a futuros profissionais e mesmo para o País?
Acho que o caminho trilhado pela Datalink ao longo dos anos traz lições importantes para a indústria e para as instituições de ensino e de pesquisa. Em conversas que tive com os fundadores, o que me chamou a atenção foi a postura com relação ao desenvolvimento dos funcionários dentro da empresa.

Acredito que uma das razões da rotatividade [turnover] ser baixa em relação à média do mercado é o fato de a Datalink proporcionar oportunidade para que os funcionários cresçam profissionalmente. É claro que devido ao porte atual, não é possível atender aos anseios de todos, mas aqueles que persistem e buscam o aprimoramento acabam conseguindo alcançar seus objetivos.

Vale salientar que todas as empresas, de forma geral, querem valorizar os seus colaboradores. Entretanto, não é nada fácil fazer acontecer na prática, pois é necessário que a empresa tenha fôlego e disponibilidade para implementar programas de aperfeiçoamento dentro da empresa (in company).

Revolução digital
Como o senhor posiciona a Datalink, uma empresa que fabrica cabos para telecomunicações e automação etc., num Brasil que tem o desafio de se qualificar para os avanços tecnológicos num mundo social, privado e empresarial cada vez mais dominado por paradigmas das tecnologias da informação e da comunicação (TICs)? Como não ser passado para trás nessa “destruição criativa” [conceito introduzido pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, na primeira metade do século XX] cada vez mais veloz?
Você tocou num tema muito importante. O Brasil é um país muito grande e populoso. Porém, é também um país muito desigual. Os grandes centros são tão avançados e modernos quanto as capitais dos países desenvolvidos, como Nova Iorque, Paris ou Tóquio [respectivamente, cidade dos Estados Unidos e as capitais da França e do Japão]. Enquanto isso, ainda falta distribuir a infraestrutura de saneamento, energia, telecomunicação e de mobilidade para muito dos cinco mil municípios do País.

Recentemente, chegou ao Brasil a tecnologia 5G de telefonia sem fio. Essa nova tecnologia de comunicação, juntamente com outras tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA) e a Robótica, estão desencadeando uma nova revolução chamada “Revolução Digital”.

Diante desse cenário, vejo que a Datalink tem enorme potencial de crescer de forma exponencial, produzindo e fornecendo soluções de conectividade nas áreas de Indústria 4.0, cidades inteligentes [smart cities] e agricultura digital, entre outras.

Acredito que o fator-chave para a Datalink será a criação de uma geração de colaboradores que herde o espírito primordial dos fundadores e desenvolvam novos caminhos para enfrentar os desafios da “era digital” que se aproxima.

Inovação
Em recente entrevista ao Datalink News, o professor José Roberto Cardoso (Poli-USP) observou que, hoje, criação e inovação estão muito associadas a uma startup, mas a inovação pode estar em diversas outras ações.
O professor Cardoso é uma autoridade na área de ensino de engenharia. Ele sempre foi um grande incentivador dos alunos para empreenderem e construírem startups por meio da inovação.

A inovação está muito associada aos startups por conta das incertezas envolvidas na implementação de novas ideias. As empresas tradicionais buscam minimizar os riscos decorrentes da adoção de novas soluções. Entretanto, isso não quer dizer que a inovação seja uma exclusividade das startups. Muito pelo contrário, as empresas estão cada vez mais buscando a inovação como forma de vencer a concorrência e conquistar o mercado.

Como o senhor avalia o papel da inovação na Datalink?
Vejo que a Datalink percebeu a importância da inovação, e vem trabalhando para incorporá-la dentro da cultura da empresa. Recentemente, numa conversa com um dos fundadores, fiquei sabendo de algumas inovações criadas pelos colaboradores. Uma delas é o “tour virtual”, que é uma ferramenta que permite aos representantes e clientes da Datalink conhecerem a fábrica em detalhes, um passo-a-passo de cada uma das etapas de produção dos cabos.

Essa inovação traz um impacto muito positivo nos clientes que muitas vezes estão distantes. Importante observar que é uma inovação difícil de ser copiada, pois o ponto essencial não é a instalação de câmeras em si (algo que qualquer um pode fazer), mas o conteúdo que será mostrado em tempo real e não “a casa arrumada” para os visitantes que podem acessar a qualquer momento.

Outra inovação foi a gravação do nome dos clientes no tubo termo retrátil dos cabos de som. Isso causou um impacto muito positivo nos lojistas, pois eles se sentiram valorizados e mais motivados a oferecer um produto personalizado para os seus clientes.

Enfim, a Datalink está inovando sempre, e muitas vezes são detalhes que passam despercebidos pela maioria das pessoas, mas que fazem uma grande diferença no final das contas.

Estudantes devem conhecer inovação da Datalink, afirma professor

Estudantes devem conhecer inovação da Datalink, afirma professor

Para José Roberto Cardoso, a empresa, há quase 30 anos, consegue reunir qualidade, ética e tecnologia.

Rosângela Ribeiro Gil
Assessoria de Imprensa
imprensa@afdatalink.com.br

Cristina Camacho
Arte e edição de imagens
elisabeth@afdatalink.com.br

Apaixonado pelo ofício do magistério e pela engenharia brasileira, José Roberto Cardoso recebeu os títulos de engenheiro eletricista, mestre, doutor e livre-docente em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) em 1974, 1979, 1986 e 1993 respectivamente, e no período de 1986-1987 realizou pós-doutorado no Laboratoire d´Electrotechnique de Grenoble, na França. Desde 1999 é professor titular do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Poli. Na graduação ministra cursos de Eletromagnetismo e Conversão Eletromecânica de Energia, escreveu três livros, um deles em língua inglesa, e é membro atuante de organizações internacionais que se dedicam à Educação em Engenharia.

O professor Cardoso é grande entusiasta das iniciativas na área da engenharia no País, mas não abre mão de um exercício profissional amparado totalmente na ética e na ação responsável. Para ele, a engenharia é fundamental para os tempos atuais, assombrados pelas emergências climáticas, para conceber processos, produtos e práticas ambientalmente sustentáveis.

Com a simplicidade e serenidade que lhes são características, o docente falou com a reportagem da Datalink News sobre as iniciativas de profissionais de engenharia que dão certo, como a própria Datalink, as principais transformações no ensino da engenharia e indica, ainda, as novas e importantes competências para os engenheiros, como a comunicação, trabalho em equipe e a vontade de sempre aprender.

O professor Cardoso traz a sabedoria que não precisa do tom autoritário, suas palavras sempre são ditas em tom quase silencioso e amigável, jeito daqueles que gostam do diálogo democrático.

O exercício da profissão sempre foi muito elástico – desde os profissionais empregados aos que trilham o caminho do empreendedorismo. A Datalink, inclusive, nasce do senso de oportunidade e empreendedorismo de dois engenheiros egressos do ITA, no início dos anos 1990, quando o Brasil passava por ajustes econômicos. Como o senhor vê o universo de atuação dos/as engenheiros?
José Roberto Cardoso –
A experiência dos empreendedores que criaram a Datalink é conhecimento privilegiado, que precisa ser difundido entre nossos estudantes. Ao ver a empresa agora, responsável pelo desenvolvimento de produtos de alta tecnologia no setor de transmissão de dados, não imaginamos os desafios que seus responsáveis enfrentaram para atingir este estágio de desenvolvimento tecnológico.

São posturas como esta que precisam ser difundidas entre nossos estudantes. A época em que o emprego aparecia nas páginas dos jornais acabou, no entanto, as oportunidades de criação passam na frente dos olhos de nossos estudantes a todo o instante. Resta a eles “enxergá-las”, como fizeram os estudantes do ITA em 1990 ao criarem a Datalink.

Pensa-se que criar corresponde a abrir uma startup, no entanto, isso não é verdade. Nossos estudantes devem ser criativos e inovadores nas próprias empresas em que trabalham, bastando para isso ter um raciocínio crítico adequado, aliado a uma inteligência emocional bem desenvolvida.

Eles precisam saber que a IBM mudou completamente seu ramo de atividade, devido a insistência de apenas um de seus funcionários, cujo nome já não me lembro, caso contrário estaria no rol das grandes empresas do passado que desapareceram sem deixar vestígios no mundo corporativo.

Nos tempos atuais, qual a melhor definição de engenharia?
José Roberto Cardoso – O engenheiro(a) é aquele profissional que concebe, projeta (e enquanto projeta inova), implementa e opera sistemas ou produtos com a visão no futuro do planeta. Suas ações em nossos dias devem estar relacionadas ao atendimento das metas dos objetivos do desenvolvimento sustentável [ODS, da Organização das Nações Unidas], e em disponibilizar às gerações futuras aquilo que nos é disponibilizado em nossos dias.

Diante desse dilema da sustentabilidade, do desenvolvimento que não mais agrida e mate os recursos naturais, o mundo pode viver sem a engenharia?
José Roberto Cardoso –
Os engenheiros mudam o mundo a cada dia, e nunca estão satisfeitos. Qualquer ação humana de uma forma ou de outra impacta o meio ambiente, aqui visto como algo bem geral, que inclui a humanidade.

Para que essas mudanças não causem danos irreversíveis, a engenharia é, em nossos dias, a profissão mais exigida na mitigação de danos causados pela ação humana, de modo que não há como pensar em um mundo sem engenharia em nossos dias.

Como a profissão, ao longo da história da civilização humana, vem se adaptando às exigências de cada tempo histórico?
José Roberto Cardoso –
A engenharia vive da reflexão sobre os erros do passado. Até meados do século XX, os engenheiros não se preocupavam com as origens dos insumos utilizados em suas realizações. Imaginava-se que os recursos, de toda ordem, eram infinitos, de modo que pensavam no produto apenas durante o espaço de tempo em que estavam projetando-o. Não havia preocupação mínima com o que aconteceria com ele após ser vendido, e muito menos pensava-se no que ocorreu com os materiais utilizados na sua manufatura.

Hoje em dia é diferente. O engenheiro tem consciência de que um produto é concebido utilizando-se de materiais oriundos de uma mina, ou de um poço de petróleo ou de uma floresta, de modo que o impacto na sustentabilidade é evidente.

Cabe ao engenheiro concebê-lo de modo a minimizar ao extremo este impacto, seja utilizando materiais reciclados ou oriundos de minas em que o trabalho escravo não esteja presente, de madeiras de reflorestamento certificadas e com o mínimo de combustível fóssil; sem esquecer de prever que um dia este produto será “aposentado” ou ressuscitado sem agredir o meio ambiente.

Outra questão que nos incomoda como engenheiros, é que o avanço tecnológico é sempre dirigido em aumentar o foço existente entre a elite dominante e os vulneráveis. Nossos profissionais precisam conceber produtos e sistemas para reduzir esta distância que a cada dia aumenta mais.

Quais as principais transformações no ensino da engenharia que o senhor observou nesse tempo de docência?
José Roberto Cardoso – A principal transformação que observamos nestes últimos 25 anos foi a mudança no relacionamento professor/aluno. No passado, o professor era um monarca, sua palavra era absoluta e sua intelectualidade a única fonte de conhecimento. A tecnologia, associada à evolução das relações humanas, com o reconhecimento da diversidade sexual, e a rejeição ao racismo levou nossos alunos a assumir a posição de protagonistas na aquisição do conhecimento.

O raciocínio crítico evoluído, que leva o ser humano a questionar aquilo que não entendeu sem medo, levou ao compartilhamento de responsabilidades na aquisição do conhecimento. Para tal, o estudante de engenharia precisou adquirir competências que no passado não eram exigidas do profissional. Hoje, é comum ver um engenheiro bom comunicador, literato, com conhecimentos diversos associados ao contexto da prática da engenharia e, sobretudo, consciente de sua responsabilidade para com nosso planeta.

Há muito ainda a fazer, pois existe um conflito de gerações em andamento, no entanto, isso é coisa que o tempo, como juiz implacável, resolverá.

Como a engenharia segue num mundo em que é necessário conciliar negócios, sustentabilidade e bem-estar social?
José Roberto Cardoso –
Esta é a nova consciência que precisa ser desenvolvida nos estudantes de engenharia. Nos negócios, a ética incondicional, sem abertura alguma à sua violação; na sustentabilidade, a consciência ambiental de que este mundo é único e não há como não o tratar bem; no bem-estar social, a governança profissional das empresas que garanta a boa gestão dos dois primeiros quesitos com a visão de que o ser humano é o maior patrimônio de qualquer empreendimento, garantirá, a meu ver, uma engenharia de qualidade e responsável.

Por fim, o que o senhor falaria aos engenheiros já formados e aos que virão?
José Roberto Cardoso –
Estamos no século em que as regras foram feitas para serem quebradas. São muitos os exemplos que temos para listar. No entanto, para quebrá-las os engenheiros precisam assumir responsabilidades que antes não eram exigidas, pois vivíamos em um mundo com regulamentos cristalizados que limitavam a criatividade. Para viver neste novo mundo, o/a engenheiro/a precisa ser competente no trabalho em equipe, na comunicação oral, escrita e na linguagem gráfica, raciocínio crítico privilegiado, elevado quociente emocional e, por fim, mas não menos importante, a vontade de sempre aprender.