Este é o lema da campanha Janeiro Branco deste ano de 2023, no Brasil.
Rosângela Ribeiro Gil
Assessoria de Imprensa
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Cristina Camacho
Foto e edição de imagens
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Em 2022, numa iniciativa conjunta inédita, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) pediram uma ação concreta para lidar com questões de saúde mental na população ativa. Tal fato se baseia na estimativa de que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade que custam à economia global quase um trilhão de dólares, segundos os dois organismos.
Por isso, entre as diretrizes globais da OMS sobre saúde mental no trabalho são recomendadas ações para enfrentar cargas de trabalho pesadas, comportamentos negativos e outros fatores que criam angústia no trabalho. Pela primeira vez, a OMS recomenda até o treinamento de gerente para construir sua capacidade de evitar ambientes de trabalho estressantes e responder aos trabalhadores e às trabalhadoras em perigo. Os dois organismos internacionais produziram o documento Saúde Mental no Trabalho.
Um assunto tão fundamental para as nossas vidas e relações é um dos temas da primeira edição de 2023 da Datalink News. Para tanto, destacamos a campanha Janeiro Branco, pensada por um grupo de psicólogos da cidade mineira de Uberlândia, em 2014, devido ao aumento de casos de suicídio e depressão no Brasil e no mundo. A explicação é da psicóloga Nilva Marcandali, que tem diversas especializações em Saúde Mental. Ela é a entrevistada especial desta nossa edição 14.
A campanha Janeiro Branco, neste ano, traz como lema “O mundo pede saúde mental”, um alerta para se dar maior visibilidade de problemas emocionais a partir da pandemia iniciada em 2020, que provocou um aumento no diagnóstico de doenças psíquicas.
A pauta sobre a saúde mental reafirma o compromisso da Datalink – uma das principais fabricantes de cabos e conectores de alta qualidade e performance do País – de trazer informações de qualidade sobre assuntos importantes para a sociedade. A Saúde Mental é um deles, pois, como destaca Marcandali, a Organização Mundial da Saúde já estimava que a depressão seria a doença com maior epidemiologia no mundo até o ano de 2020, assim, era urgente criar medidas preventivas para a população.
Destaque OMS
Em 2019, quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do mundo – viviam com um transtorno mental. O suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade.
Como a especialista explica, a definição do mês de janeiro, o primeiro do ano, carrega toda uma significação e simbolismo do início de um novo ciclo: “É quando as pessoas repensam suas vidas e estabelecem novas metas. Vestem-se de branco no primeiro dia do ano, com pensamentos desejosos de paz e felicidade, além do branco ser a cor da área da saúde.”
Nesse sentido, complementa Nilva Marcandali, a campanha Janeiro Branco “tem como objetivo a conscientização e a quebra de tabus sobre doença mental – chamada de Transtorno Mental, pois é a doença que envolve o funcionamento químico neural – e doença emocional, ligada mais às questões psicológicas que provocam disfunções nos pensamentos, sentimentos e comportamentos”.
Preconceitos e dados
Segundo Marcandali, nem a disponibilidade de informações nas mídias sociais conseguiu “derrubar os preconceitos em relação à necessidade de se consultar um/a psicólogo/a ou um/a psiquiatra, quando percebe-se que alguma coisa está errada comigo”. Infelizmente, acrescenta ela, “as pessoas só nos procuram quando já chegaram em seu limite emocional ou já tiveram perdas em algumas das áreas da sua vida: separação conjugal, demissão, crises familiares, entre outras. Assim, o Janeiro Branco é mais uma via de quebrarmos tabus e fornecermos breve orientação sobre a possibilidade de saúde mental e emocional preventiva”.
Ela acrescenta: “Como a OMS havia previsto, a depressão (Transtorno Depressivo Maior) só não foi a doença de maior incidência em 2020, pois tivemos a devastação da Covid-19.” E relaciona: “Já no ano de 2020, o número de suicídios aumentou significativamente em alguns países, como Estados Unidos e Japão; sintomatologias depressivas e ansiosas foram uma crescente na população em geral; e o diagnóstico de transtornos mentais cresceu de maneira preocupante a partir de 2021, segundo ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar [órgão regulador brasileiro].”
Destaque OMS
Estigma, discriminação e violações de direitos humanos contra pessoas com problemas de saúde mental são comuns em comunidades e sistemas de atenção em todos os lugares. Em todos os países, são as pessoas mais pobres e desfavorecidas que correm maior risco de problemas de saúde mental e que também são as menos propensas a receber serviços adequados.
Outro dado importante e alarmante trazido pela psicóloga Nilva Marcandali é que o Brasil é o país de maior incidência em ansiedade das Américas, e o segundo em depressão, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados também da Organização Mundial da Saúde. “Todos os profissionais da saúde estão atentos e preocupados com esses dados, já que nossa mente é responsável pelo funcionamento do nosso corpo, e mente doente, corpo doente”, ressalta.
Saúde mental preventiva
A psicóloga e especialista em Saúde Mental observa que “todos trazemos de nossa herança genética uma predisposição a algumas disfunções emocionais ou de personalidade, mas que será o ambiente que crescemos e convivemos que acionará (ou não) essa predisposição, em diferentes níveis de gravidade”.
Situação que “reforça a importância da saúde mental preventiva quando já existem diagnósticos mentais em sua família. Comportamentos depressivos, ansiosos, fóbicos, agressivos, possessivos, obsessivos etc. podem se agravar para um transtorno mental com necessidade de medicação se não tratamos em seu início. Isso ocorre, porque a repetição de um comportamento disfuncional altera a química neural, e vice-versa, promovendo desequilíbrio e déficits”, contextualiza Marcandali.
Segundo ela, o adoecimento mental pode acontecer já no bebê em gestação, caso a mãe esteja com algum desequilíbrio neuroquímico devido a qualquer transtorno mental não identificado e tratado. “Desde a pandemia, dobrou o número de crianças com sintomas de ansiedade e depressão, não só pela perda de muitas atividades sociais, mas porque as crianças estavam confusas e com medo de perder seus entes queridos para a Covid-19”, afirma Marcandali.
Destaque OMS
A doença causada pelo novo coronavírus, segundo dados da OMS, desencadeou um aumento de 25% na ansiedade e depressão geral em todo o mundo, expondo como os governos estavam despreparados para lidar com o impacto na saúde mental e revelando uma escassez global crônica de recursos para lidar com a saúde mental. Em 2020, os governos em todo o mundo gastaram uma média de apenas 2% dos orçamentos de saúde em saúde mental, sendo que os países de renda média baixa investiram menos de 1%.
Ela alerta ainda: “Um dado importante e que não se divulga adequadamente, é que o cérebro continua em processo de formação até por volta dos 22 anos. E se uma criança ou adolescente possui sintomas de algum transtorno emocional e não é tratada adequadamente, ela vai carregar esses sintomas por toda sua vida, até como parte de sua personalidade. Entretanto, se ela buscar tratamento após adulta conseguirá amenizar e até reverter os sintomas, porém, dependendo da gravidade da lesão neuroquímica, pode-se não conseguir uma reversão total dos sintomas.”
Para ela, o ritmo desenfreado da sociedade atual torna mais difícil conseguir o tão necessário equilíbrio de vida. Por isso, a psicóloga propõe aos seus pacientes “que pensem nas diferentes áreas da vida como poupanças: trabalho, pessoal, familiar, social, espiritual”.
Nilva Marcandali ensina: “Nem sempre vamos depositar de forma equilibrada em todas as poupanças, pois em cada fase de nossa vida algumas delas se sobressaem, porém, é preciso toda semana fazer “um depósito” em cada uma delas. Assim, você estará cuidando de sua integralidade, um gesto que pode ajudar na sua saúde mental e física.”
Sobre Nilva Marcandali
Psicóloga graduada pela Universidade Bandeirante de São Paulo, 2012. Tem especializações em: Terapia Comportamental e Cognitiva pelo HU-IPUSP, 2013; Terapia Cognitivo-comportamental Aplicada a Saúde Mental pelo AMBAN-IPq-HC da Faculdade de Medicina da USP, 2015. E fez aprimoramentos em: Transtornos Alimentares pelo PROTAD-IPq-HC-FMUSP, 2017; Prevenção e Posvenção de Suicídio pelo Instituto Vitallere, 2014; Luto e Perdas na Teoria Fenomenológica Existencial, pela Prestar Cuidados e Serviços, 2011-2012; Terapia Dialética para tratamento do Transtorno de Personalidade Borderline; Terapia Processual; Terapia de Aceitação e Compromisso; Terapia de Ativação Comportamental para Depressão; Tratamento da Codependência Emocional.
Nilva Marcandali faz atendimento presencial e online a adolescentes, adultos e casais. Para quem quer saber mais e entrar em contato com a especialista, o perfil dela no Instagram é @nilvamarcandali.